Quimeras - 100 anos de Surrealismmo
Sábado, 09/11/2024
EM BREVEData/Horário:
Sábado, 09/11/2024 | 11h
Localização:
Galeria Espaço Arte MM
Endereço:
Rua Peixoto Gomide, 1757 - Jardins
Email:
galeria@espacoarte.com.br
Telefones:
(11) 3826-3957
(11) 94105-8449
Quimeras - 100 anos de Surrealismo
No centenário do surrealismo, a Galeria Espaço Arte MM celebra o movimento artístico liderado pelo francês André Breton em 1924. Nesta mostra – um recorte do seu acervo – não estamos falando apenas sobre o surrealismo histórico, mas, principalmente, daquilo que lhe dá sentidos no aqui e agora, 100 anos depois. Uma rebelião que carrega consigo características do romantismo do século 19 – como a legitimação da natureza poética e o chamamento ao manancial da imaginação, do inconsciente na vida – mas que também possibilita fricções com o conservadorismo e seus derivados. Um movimento que ecoa até hoje com o propósito emancipador não só do corpo, mas também do espírito.
A galeria tem se consolidado como uma referência no circuito artístico brasileiro há mais de 20 anos. Desde 2001, quando inaugurou em Higienópolis, em São Paulo (inicialmente chamada Espaço Arte MM), Mizrahi ampliou e diversificou seu acervo e artistas representados. Muitos deles nomes consagrados no Brasil e no mundo com uma seleção de trabalhos de relevância histórica e cultural. Esta é a última mostra no atual local que ocupa, visto que em 2025 a galeria muda para um novo espaço muito maior e que vai inaugurar um outro capítulo na sua história.
São 18 artistas e 54 obras entre pinturas, gravuras, desenhos, esculturas e fotografia. Nomes fundamentais da arte brasileira como Flávio de Carvalho (1899-1973), e da arte internacional como o cubano Wifredo Lam (1902-1982). Destaco aqui o alemão Walter Lewy (1905-1995), que imigra para o Brasil em 1938 e é fiel ao surrealismo até o fim da vida (ele dizia que o movimento não acabaria nunca porque “ele é o nosso cotidiano”). Um dos seus principais representantes no país, sua obra transcende o realismo mágico e abriga um imaginário no qual mistura de forma onírica objetos indefinidos com paisagens e plantas quiméricas que remetem à metafísica.
Assim como os artistas paulistas Octávio Ferreira de Araújo (1926-2015), que em sua produção reforça uma atmosfera de magia e mistério na qual é recorrente a presença da figura da mulher associada à animais e à natureza; Mário Gruber (1927-2011), que criou personagens que são amiúde apresentados como anjos e magos mascarados em obras que causam estranheza e também se relacionam à linguagem metafórica e a elementos ficcionais fantasiosos. E também Marcello Grassmann (1925–2013), um dos maiores gravuristas brasileiros, que em sua obra explora frequentemente fundamentos relacionados ao imaginário medieval e renascentista criando figuras como sereias, harpias; seres em parte humanos e em parte animais. Um universo de criaturas míticas.
Tendo como tema o centenário do surrealismo, a mostra coletiva se desdobra em artistas cuja produção tem o movimento como eixo, mas também apresenta outros que, a priori, não são diretamente associados ao tema, mas que de alguma forma – a meu ver – dialoga com ele, como Cildo Meireles, Inos Corradin, Leon Ferrari, Regina Silveira, Victor Brecheret e Vik Muniz.
O público certamente sentirá falta de mais artistas mulheres na coletiva. Mas não há como negar que o surrealismo foi um movimento eminentemente misógino, no qual as mulheres eram vistas como “modelos”, “musas” para as suas criações, sejam no campo das artes visuais quanto na literatura. Mas 100 anos depois essa objetificação cada vez mais tem sido desmistificada. Parafraseando uma frase que li há tempos (não lembro a autoria), o amanhã é sempre uma quimera, mas o hoje é uma eterna [ir]realidade.
Jurandy Valença, outubro de 2024.
Artista, curador e jornalista. Atualmente diretor da Biblioteca Mário de Andrade